Devemos ou não Receber Sectários em nossas Casas?
"Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis" (2Jo 10)
De acordo com 2João 10, não devemos receber em nossas casas, ou até mesmo saudar, quaisquer pessoas que venham até nós e não compartilham da nossa fé em Cristo. Mas será que isso deve ser interpretado literalmente? Como isso se aplicaria a um sectário? Deveríamos realmente dispensá-los com esta hostilidade?
Não é provável que esse versículo proíba aos cristãos de receberem sectários em suas casas, quando a intenção for testemunhar-lhes acerca do evangelho de Cristo. Antes, mais propriamente, o texto parece se referir à proibição de conceder ao sectário consecutivas oportunidades de ensinar sua falsa doutrina e, mesmo assim, sob um "pano de fundo" diferente dos nossos dias.
O contexto para esta interpretação pode ser vislumbrado nos primórdios do cristianismo, numa época em que não existiam igrejas centralizadas e acessíveis nas quais todos os crentes pudessem congregar. Na realidade, o que existiam eram casas que funcionavam como pequenas igrejas que se espalhavam por toda a localidade em que o evangelho se estabelecia.
Examinando o Novo Testamento, vemos que, logo no início da igreja, os cristãos são vistos unidos "partindo o pão de casa em casa" (At 2.46. Cf. tb. 5.42) e ajuntando-se para orar na casa de Maria, a mãe de João Marcos (At 12.12). De fato, as igrejas primitivas freqüentemente se estabeleciam nas casas dos irmãos e este fator é primordial para entender o que o apóstolo João quis compartilhar quando escreveu sua segunda epístola. Veja alguns exemplos dessa ocorrência nas cartas de Paulo:
• "Saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo" (Rm 16.5)
• "As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áqüila e Priscila, com a igreja que está em sua casa" (1Co 16.19)
• "Saudai aos irmãos que estão em Laodicéia e a Ninfa e à igreja que está em sua casa" (Cl 4.15).
O emprego de templos eclesiásticos específicos não apareceu antes do final do segundo século.
Assim, aparentemente, o apóstolo João está, na realidade, nos advertindo contra a aceitação de um falso mestre na igreja, concedendo-lhe o "púlpito" para ensinar. Olhando as coisas por este prisma, entendemos que a proibição visava a pureza doutrinária da igreja.
Estender tal hospitalidade a um falso mestre insinuaria que a igreja estaria aceitando ou aprovando seu ensino, o que certamente causaria grande confusão entre os fiéis. Isso deveria ser evitado, a qualquer custo.
Também é possível que João estivesse proibindo aos cristãos de hospedarem falsos mestres em seus lares. Diante desta hipótese, é salutar lembrar que, nos dias em que a igreja apostólica estava em formação, o ministério pastoral e evangelístico foi exercido principalmente por indivíduos que viajavam de local a local, de casa (igreja) em casa (igreja). Esses pastores itinerantes dependiam da hospitalidade das pessoas de uma congregação local. Por conseguinte, João estaria admoestando a igreja a não estender este tipo de hospitalidade aos falsos mestres. Logo, os cristãos não deveriam deixar que sectários ficassem em suas casas e as utilizassem como bases de suas operações para difundir seu falso evangelho.
Em qualquer destes casos, esse versículo não proíbe aos cristãos de permitir que um sectário entre em suas casas para propósitos evangelísticos. Da próxima vez que uma dupla de testemunhas-de-jeová ou mórmons bater na porta de sua casa, sinta-se livre para convidá-la para ouvir o seu testemunho. Mas esteja totalmente seguro em relação aos fundamentos da sua fé, "para que não sejamos [...] levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente" (Ef 4.14).
Christian Apologetics and Research Ministrty
Adaptado por Elvis Brassaroto Aleixo
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